EXPERIÊNCIAS COM O SOFRIMENTO PSÍQUICO
RECOVERY, EMANCIPAÇÃO E CIDADANIA
Resumo
O objetivo deste trabalho é apresentar as ações do grupo de estudos, pesquisa e extensão sobre sofrimento psíquico, recovery e cidadania do Curso de Psicologia da Faculdade Cesusc, que vem, desde 2015, realizando estudos e práticas na área da saúde mental em Florianópolis. Este grupo foi aberto para estudantes dos cursos de Psicologia e Direito, usuários do sistema de saúde e profissionais da área. A lei federal 10.216 de 2001 demarcou no Brasil o processo de declínio do modelo de atenção à saúde mental pautado na lógica manicomial. Entretanto, a superação do modelo hospitalocêntrico e inscrito num referencial de direitos humanos estaria apenas começando. A Reforma Psiquiátrica brasileira tem se mostrado eficaz no processo de diminuição das internações e no cuidado dos usuários em serviços de atenção psicossocial. Contudo, muitos serviços operam com uma linguagem da reforma, enquanto na prática permanecem com mecanismos pautados na lógica manicomial e pautados na doença, com dificuldades em reconhecer a necessidade da mudança em relação à concepção de saúde mental, à partilha de poder e ao protagonismo dos usuários. Sendo assim, o desafio que se coloca para a comunidade acadêmica e profissional é o da afirmação da centralidade do usuário no desenho e nas ações de cuidado. A noção de Recovery nasce da luta dos próprios usuários norte-americanos para terem suas vidas defendidas e qualificadas para além do diagnóstico de transtorno mental. Implica em um conjunto de pressupostos onde as pessoas com experiência de sofrimento psíquico, seja por transtorno mental ou uso de substâncias, tenham acesso aos mesmos contextos sociais, habitacionais, profissionais e sejam tratados como quaisquer outros cidadãos; que as pessoas tenham o direito de habitar, trabalhar, estudar e socializar-se. Este grupo de estudos, pesquisa e extensão tem, além das leituras, como ação prática, a realização de oficinas utilizando uma ferramenta de recovery “WRAP” que visa traçar um plano de ação para o bem-estar e recovery das pessoas com experiência de sofrimento psíquico. Realizou-se a tradução e a adaptação transcultural dessa ferramenta e sua aplicação desde 2016. Nas primeiras experiências, percebeu-se que o WRAP pode ser uma ferramenta potente no contexto brasileiro, podendo atuar como um dispositivo reflexivo e prático de cuidado de si e de busca do bem-estar e da cidadania dos próprios usuários, através de pequenas ações cotidianas.
