FAMÍLIA TRANS
UMA EXPERIÊNCIA DE GENOGRAMA PARA A COMPREENSÃO E ROMPIMENTO DE PARADIGMAS SOCIAIS
Resumo
Este estudo foi desenvolvido na disciplina de Psicologia da Família, a fim de refletir sobre a complexidade e diversidade das relações familiares. Nesse sentido, o objetivo do trabalho foi descrever a conjugalidade de um casal trans, ou seja, constituído por pessoas que se autoidentificam como transexuais, com suas implicações sociais e culturais. Utilizou-se como método a abordagem qualitativa, no qual realizou-se entrevista semiestruturada para a produção de um genograma familiar. A análise foi pautada nas perspectivas da Teoria Relacional Sistêmica e da Psicologia Social Crítica que envolvem discussões sobre família, corpo, gênero e sexualidade. Participou do estudo uma mulher trans de 47 anos, casada com um homem trans de 22 anos, ligados por um sistema familiar que se constitui pelo casamento e redes de parentalidade interdependentes. Percebeu-se inúmeros aspectos desenvolvimentais, de conexões por arranjos emocionais e relacionais que dão a apropriação do funcionamento desta família. Observou-se o desafio na criação de estratégias de resistência e legitimação dos sujeitos como um casal, diante de sua própria rede parental, que, ao longo da coleta de dados, pelas conexões existentes foram vindo à tona percepções de ambivalência sentimental diante dos estressores familiares. Também, aspectos visíveis de enfrentamento de suas existências na conjugalidade, diante das dificuldades que eles percebem no olhar da sociedade, tanto no que se refere ao ideal de norma, quanto da performatividade sobre gênero e suas sexualidades e, sobretudo o quanto tais dimensões afetam suas subjetividades. Percebe-se que o casamento, historicamente, mantém uma lógica estrutural e pragmática nas relações, sobretudo baseado nas diferenças sexuais, ponto crítico desta análise que demonstra a significativa importância e os impactos nos modos de subjetivação deste casal, por mais que atualmente o casamento tenha sofrido transformações históricas, culturais, e também por meio de dispositivos científicos que propõem a ressignificação da legitimidade destas relações. Considera-se necessário estudo nessa área, visto a carência de produção científica sobre o tema. A experiência acadêmica nesse trabalho trouxe reflexões sobre a conjugalidade como uma prática reguladora quando vista pela perspectiva de um “ideal social”, assim como a importância de uma análise crítica da Psicologia acerca do casamento como uma extensão da normatividade sobre os corpos e sexualidades que produz sujeitos e subjetividades.