ESTAR GRÁVIDA É SER MÃE?
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS MULHERES GRÁVIDAS SOBRE O PROCESSO GESTACIONAL
Resumo
Este artigo objetiva identificar e analisar as Representações Sociais sobre o processo gestacional a partir das mulheres grávidas, buscando compreender possíveis efeitos da gestação no processo psicossocial destas mulheres. Trata-se de pesquisa de campo, de natureza aplicada, com abordagem qualitativa e objetivo exploratório. Os sujeitos de pesquisa foram mulheres grávidas, com faixa etária entre 18 e 40 anos, socialmente vulneráveis, participantes de um grupo de gestantes oferecido por uma ONG estabelecida na comunidade onde vivem, em um bairro de Florianópolis, SC. Dentro deste grupo, foi realizado um encontro com dinâmicas e roda de conversa, com o objetivo de conhecer as Representações Sociais das gestantes. Foi feita uma análise qualitativa dos discursos produzidos pelas grávidas e do material gerado durante o encontro, fundamentada na perspectiva da Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici. Esta teoria valoriza cientificamente os saberes do senso comum e os diálogos interpessoais do dia a dia, que são elaborados e compartilhados no coletivo, a fim de construir e compreender a realidade. As principais Representações Sociais das grávidas sobre a gestação, identificadas neste trabalho, foram categorizadas em quatro eixos temáticos principais: a ausência da figura do pai, a condenação do aborto, a gravidez como algo divino e a maternidade como objetivo de vida. Essas Representações Sociais denotam uma tendência à naturalização de papéis sociais sobre o que é ser mulher e a maternidade que se consolida através das gerações, e que constituem o gênero feminino desde a infância como um modo de preparação para a vida adulta e para o que poderá ser o seu maior desafio que é o de exercer a maternidade. Os resultados apontaram que as representações a respeito da gestação estão centradas na experiência da maternidade, sugerindo a existência de uma organização social e cultural que desde cedo prepara as mulheres para exercerem sua suposta “natureza”: a de ser mãe. Esta naturalização indica que a reflexão sobre o processo de gestação está representada pelas expectativas relacionadas aos papéis inerentes ao bebê e aos cuidados maternos e não na experiência gestacional.