Movimento Feminino pela Anistia e a sua Maria
Palavras-chave:
Ditadura Civil-Militar, Movimento Feminino Pela Anistia, Maria Therezinha Zerbini, Movimento Feminista.Resumo
A ideia central do presente trabalho é versar sobre a vida e militância de Maria Therezinha Zerbini, mulher e militante pela anistia em meio aos anos de repressão da ditadura civil-militar. Esposa do general de brigada Euryale de Jesus Zerbini, preso e cassado após o golpe em 1964 por se posicionar contra ruptura da ordem democrática, Therezinha e um grupo modesto de mulheres ensejou a articulação de um dos principais movimentos brasileiros pela Anistia, o Movimento Feminino pela Anistia (MFPA). Uma figura simbólica dentre um mar de novos sujeitos e personagens que emergem nesse período histórico, Therezinha Zerbini representa a força de mulheres em um contexto de eclosão e configuração do próprio movimento feminista. Mesmo que, como é possível inferir através de suas entrevistas, o MFPA não se veja como um movimento feminista, ao menos não aos olhos de sua principal idealizadora. Apesar da postura de Therezinha de afastar o MFPA da própria estrutura do movimento feminista, não se pode negar a linha tênue entre os dois movimentos, uma vez que muitas mulheres que iniciaram a militância através da bandeira da anistia acabaram por se empoderar e interagir com pautas dos principais segmentos feministas da época. Tratava-se de um grupo de mulheres, muitas donas de casas, esposas e mães de membros da resistência, que se viram envolvidas na luta contra o sistema autoritário por causa de seus entes amados, alguns torturados, desaparecidos ou exilados. Eram mulheres que, diante dos horrores da ditadura civil-militar, não se mantiveram inertes. Nesse viés, o MFPA se apresentava como feminino e, dessa forma, visava estabelecer as barreiras necessárias para se diferenciar do movimento feminista, porém, não se estabelecia como antifeminista. Apenas buscava um tom de neutralidade em meio a um cenário político conturbado em que os discursos eram deturpados e alterados, não levantavam nenhuma bandeira ideológica, mas consolidavam sua luta em torno de princípios como a Liberdade e a Justiça. Diante dessa postura do MFPA em relação ao próprio movimento feminista, é necessária uma análise mais pontual sobre alguns fatores inseridos no contexto da ditadura civil-militar: primeiro, o próprio movimento feminista estava engatinhando, apenas iniciando sua articulação no Brasil na década de 70, ou seja, a própria pauta do movimento não estava consolidada uma vez que todos os esforços dos movimentos sociais nesse momento eram contra a opressão do governo autoritário. Segundo, além da desarticulação do Movimento Feminista, o discurso difundido sobre ele na época possuía caráter pejorativo e, sendo assim, pouco atrativo. Poucas mulheres, portanto, gostariam de atrelar sua imagem ao movimento. Nesse sentido, diversos foram os fatores que influenciaram a articulação do Movimento Feminino pela Anistia e muitas foram as contribuições de Maria Therezinha Zerbini para a configuração desse movimento. O objetivo principal desse trabalho é demonstrar que as próprias incongruências do movimento estavam articuladas com o contexto político da época e também com as próprias vitórias, bem como com as formas que essas mulheres se viam e como elas foram vistas e adotadas a posteriori pelo Movimento Feminista. Resta uma análise cuidadosa desses fatores, das ambiguidades e das simbioses, a começar pela figura de Therezinha, tão heroica e brava, aos moldes das militantes feministas, tão casta e feminina, ao molde dos discursos conservadores.Downloads
Publicado
2016-11-10
Como Citar
Pacheco, T. T. (2016). Movimento Feminino pela Anistia e a sua Maria. CADERNOS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 1(1). Recuperado de https://cesuscvirtual.com.br/CIC-CESUSC/article/view/13
Edição
Seção
Direito