RECOVERY, EMANCIPAÇÃO E CIDADANIA EM SAÚDE MENTAL
UM GRUPO DE ESTUDOS, PESQUISA E EXTENSÃO
Resumo
O Brasil passou por uma enorme transformação na área da saúde mental nas última décadas, mas ainda persistem muitos desafios, tais como práticas manicomiais muitas vezes mantidas nos serviços, falta de oportunidades de trabalho para os usuários, estigma na sociedade e relações de poder paternalista ou por vezes desqualificantes. O recovery pressupõe o protagonismo dos usuários e o entendimento de que é possível exercer a cidadania, trabalhar e conviver, apesar dos sintomas. Na abordagem recovery, o foco muda da doença para as potencialidades do sujeito e para a valorização das suas capacidades de recriar espaços na comunidade após vivências de intenso sofrimento psíquico e/ou internações. O grupo de estudos, pesquisa e extensão do Curso de Psicologia do CESUSC: “Experiências com o sofrimento psíquico: recovery, emancipação e cidadania”, tem o objetivo de compreender e promover estratégias do recovery, da emancipação e da cidadania das pessoas com diagnóstico de transtornos mentais ou sofrimento psíquico por abuso de álcool e outras drogas. Este grupo vem, desde 2015, produzindo conhecimento, discutindo e avaliando a contribuição da visão do recovery para a saúde mental no Brasil, promovendo práticas de estágio e extensão, além da participação e organização de eventos. Uma pesquisa-intervenção transcultural foi iniciada em 2016 a partir da aplicação da ferramenta WRAP (Plano de ação para o bem estar e recovery) que encontra-se em sua quarta aplicação, com uma metodologia participativa. Com as experiências realizadas até então, identificamos o quanto esta ferramenta pode ser adaptável ao contexto brasileiro e percebemos ganhos para os participantes na promoção da autonomia, autoconfiança, desejo de engajamento e pertencimento a grupos sociais, dentre outros. O terceiro grupo WRAP, formado por usuários dos CAPS AD, profissionais e estudantes de psicologia, nos confirmou a possibilidade de aplicação do WRAP para diferentes públicos. Concluímos, até o momento, que, independente da pessoa situar-se em torno do uso problemático de álcool ou outras drogas, de transtornos mentais em geral ou ser um profissional da área, a ferramenta atinge seu objetivo comum de aumentar o sentimento de capacidade, melhoria do bem estar e qualidade de vida entre os participantes.